Plebe Rude, em formação atual
Plebe Rude, em formação atual (Divulgação)
Reportagem Especial

Plebe Rude não para e quer fazer ‘disco para fãs’

O legado já existe. A história já ficou marcada. Mas a Plebe Rude não para. Três anos depois de Nação Daltônica’, a icônica banda pretende lançar um novo álbum em 2017. É o menor prazo entre um disco e outro desde que o grupo explodiu, nos anos 80.

‘Para o próximo disco vamos pegar umas músicas ‘acústicos macho’, porque vamos tocar em pé. E lado B. Vamos revisitar o lado B da Plebe. É bem disco para fã’, avisa Philippe Seabra, guitarrista, vocalista e, ao lado de André X, remanescente da formação original do grupo. Clemente, dos Inocentes, e Marcelo Capucci, completam a Plebe.

Uma coisa é certa: a banda continua a criar sem fazer concessões.

“As pessoas dão opinião sem serem solicitadas sobre o que tínhamos que fazer para tocar em rádio, se reinventar. Mas não, Plebe é Plebe. No caso do ‘Nação Daltônica’, você ouve e sabe que é da Plebe”

Philippe Seabra

O músico vai além. ‘Se você pegar os discos antigos, vai perceber que tem uma evolução, mas continua sendo a mesma banda’, diz, explicando ainda uma característica marcante de seu trabalho presente até o último álbum. ‘Tem uma assinatura. São pouquinhos solos e muitos riffs. Meu mestre é o Townshend (Pete Townshend, do The Who). Ele não tem solo de assinatura, são riffs de assinatura. E são dezenas. Eu sou um guitarrista de riffs’.

Mantendo sua pegada musical e letras críticas, a Plebe Rude teve um 2016 agitado, com uma excursão comemorando os 30 anos de ‘O Concreto Já Rachou’, primeiro álbum do grupo, além das músicas de ‘Nação Daltônica’. O grupo ainda tocou na abertura de cinco shows do Guns N’ Roses no Brasil.

Além disso, o grupo foi tema do documentário ‘A Plebe é rude’, de Diego da Costa e Hiro Ishikawa. Tudo isso manteve a Plebe em exposição. ‘A Plebe tem estado em evidência, mas sem gravadora, sem jabá’, diz Seabra, que ainda ganhou o prêmio de melhor trilha sonora original, em 2014, por ‘Faroeste Caboclo’.

Com a agenda cheia e bastante trabalho, o grupo ícone do rock de Brasília ainda vê seu público crescer. ‘Isso está acontecendo naturalmente, mas dentro do nosso compasso. Estamos vendo uma renovação de público, e não apenas pessoas levando seus filhos’, diz Seabra.

Philippe Seabra: ‘Não existe atalho’
‘A Plebe demorou mais de cinco anos para chegar ao primeiro disco’. A afirmação de Philippe Seabra, um dos fundadores da Plebe Rude, reflete bem o modo como o icônico grupo de Brasília resolveu contar sua história. Já são 35 anos desde o início da banda. E ‘apenas’ seis discos de estúdio gravados.

‘O artista tem que amadurecer, precisa de tempo. Não existe atalho’, continua o músico. Fundada em 1981, a Plebe Rude lançou seu primeiro álbum em 1986. O sucesso de ‘O Concreto Já Rachou’ foi seguido por dois novos álbuns nos anos seguintes: ‘Nunca Fomos Tão Brasileiros’, de 1987, e ‘Plebe Rude’, de 1988.

O quarto disco, ‘Mais Raiva Do Que Medo’, de 1993, foi o último antes do maior hiato da banda. A Plebe só voltaria a lançar um novo álbum em 2006, ‘R Ao Contrário’. Por fim, ‘Nação Daltônica’, o último disco gravado, saiu em 2014. Agora em 2017 a Plebe Rude deve voltar a lançar um álbum.

Seguindo esse conceito e trabalhando cada música e disco sem pressa e pressão, a Plebe ajudou a escrever a história do rock produzido no Brasil. E ganhou bela homenagem no início de 2016. O ‘rock de Brasília’ foi declarado Patrimônio Cultural do Distrito Federal. ‘As músicas da Plebe e do Renato (Russo) caem em provas de vestibular. Isso é uma grande honra, uma vitória e o legado que vou deixar para o meu filho’, festeja Philippe Seabra.

O músico cita bastante a ‘coerência da Plebe’. E ela fica registrada não apenas no trabalho para gravar seus álbuns, mas até ao vivo. ‘A coerência da Plebe é para ser respeitada. A gente sofre por isso. Fizemos os shows do Guns. Só tocamos Plebe. Seria muito fácil tocar sucessos consagrados do rock nacional e levantar o público’, encerra.

‘Na internet, todo babaca tem uma opinião’
Philippe Seabra sempre manteve sua postura combativa, como uma das cabeças pensantes da Plebe Rude. E mesmo depois de 35 anos de estrada com a banda, o músico ainda se mostra bastante preocupado com a situação do país. Se no início era o fim da ditadura militar e a repressão que moldavam o pensamento do grupo, agora Philippe vê um país e sua população perdidos.

‘O brasileiro está perdido com esse ruído da mídia, tanta informação ao mesmo tempo. É um excesso de informação com pouca leitura, muita televisão, com loiras empurrando discos goela abaixo. O que a gente vê é um país polarizado, opiniões radicais, tudo no 8 ou 80’, avalia.

O último álbum do grupo, ‘Nação Daltônica’, já abordava o tema, vendo uma população estática e sem conseguir digerir toda essa informação. ‘O brasileiro está perdendo a nuância. Eu sou pai e fico assustadíssimo com isso. Estamos vendo apenas opiniões absolutistas’, diz.

Philippe vê dois fenômenos como grandes responsáveis por essa derrocada cultural. ‘É um processo que está vindo há muito tempo, a imbecilização involuntária do brasileiro. Um momento importante foi quando a programação infantil mudou do educativo para brinquedos e loiras’, diz.

O músico também cita um perigo mais recente, aumentado com o poder de difusão da internet. ‘É muito ruído o que você tem na internet. Não sabe o que está valendo. E na internet todo babaca tem uma opinião. É muito fácil ficar escondido atrás de um blog. Mas quero ver viver o que se prega’, desafia.

‘Falo isso de pessoas da minha geração que encontraram sobrevida na internet com blogs polêmicos. E assim que conseguem uma sobrevida, enganando e achando que são formadores de opinião. Eu não tenho nenhum respeito’, critica o músico.

Philippe cita um exemplo real. ‘Outro dia parei em um posto de gasolina e havia uns playboys ouvindo um sertanejo horrível. Esses caras têm o mundo inteiro nas mãos, mas consomem o que está sendo enviado goela abaixo. Parece que as pessoas ficaram mais preguiçosas’, completa.

Texto originalmente publicado na primeira fase do Bem Rock, em 2016

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